A reportagem é de JANAINA FIDALGO RAQUEL COZER.
Ele é a antítese do que se imagina de um crítico de vinhos. As garrafas e a taça estão ali. Mas o que fazem sobre a bancada o Lion, a Cheetara e o Escamoso, personagens dos Thundercats? E o balde com o emblema do time de futebol americano New York Jets?
Difícil crer que na TV alguém desconhecido conseguisse emplacar um programa nesses moldes. Foi por isso que Gary Vaynerchuk, 32, diretor de uma loja de vinhos em Nova Jersey, nos Estados Unidos, escolheu a internet para confirmar sua idéia de que vinho e diversão podem caminhar juntos.No ar há mais de dois anos, a Wine Library TV (tv.winelibrary.com) tirou Vaynerchuk do rol dos desconhecidos. Com seu jeito informal de falar sobre vinhos, o que inclui recomendar garrafas de US$ 3 e dar nojentas escarradas no tal balde do NY Jets depois de bochechar cada gole, o neocrítico tem seus videocasts acessados mais de 80 mil vezes por dia."Eu sabia que a internet era o meio no qual poderia fazer o que queria.
Num veículo tradicional, não sei se alguém acreditaria no programa", diz Vaynerchuk à Folha, por telefone.Por "fazer o queria" entenda-se testar o formato e se dar ao luxo de ficar um ano e meio no ar até começar a fazer sucesso. A web também serviu como catapulta para Vaynerchuk -ou "Vay... ner... chuk", como prefere o russo (que vive nos EUA desde os três anos), tentando descomplicar até o próprio sobrenome.
Apelidado de "Oprah on-line", autor de um livro recém-lançado (link) que está entre os títulos sobre bebidas mais vendidos na Amazon, ele já foi notícia em jornais como "Los Angeles Times" e "Washington Post". Como convidado de "veículos tradicionais", convenceu Ellen DeGeneres a degustar grama e Conan O'Brien a lamber pedra -mais ou menos como ele próprio fazia na adolescência, tentando se familiarizar com sabores e aromas de vinhos que a idade não lhe permitia tomar.Apesar do novo status de celebridade já ter lhe rendido "muitos, muitos, muitos" convites para levar a Wine Library TV à televisão, Vaynerchuk acha que ainda é cedo."Quero que o programa fique maior e definitivamente bem-sucedido antes de ir para a televisão. Sinto que, se ficar maior na internet, terei mais fãs do que se for para a televisão", diz.
Outro receio é a perda da liberdade. "[Na TV] você não toma mais todas as decisões. Tem o produtor, o diretor, a rede, os anunciantes, um monte de mãos no pote de biscoito."No pote de Vaynerchuk, por enquanto, estão apenas as mãos dele e de um câmera. Gravar cada episódio (são cinco por semana) não lhe toma muito tempo -15, 25 minutos, no máximo. É a vantagem de uma produção simples que a internet torna viável.Por outro lado, outra característica da rede consome quase todos os minutos que lhe restam: a interação com os internautas. Hiperbólico, diz receber "centenas, às vezes milhares" de e-mails por dia, fora as mensagens em sua comunidade no Facebook (apps.facebook.com/askgary)."Helloooow, everybody"Olho arregalado de desenho animado, voz esganiçada, com agudos de muitos decibéis disparados no "Helloooow, everybody" que abre os videocasts, Vaynerchuk mais parece um VJ da MTV. Seria natural pensar que seu público se restringe a jovens. Não é o que acontece."
Temos muita gente de 40, 50. Não tem relação com idade, e sim com o que eles pensam. As pessoas que vêem a Wine Library TV têm a mente aberta e querem aprender sobre vinhos de maneira divertida", avalia.
A graça pode estar na interrupção dos comentários para anunciar o placar de jogos com o seu time ou no cenário kitsch onde expõe, a cada episódio, alguns representantes da sua coleção de brinquedinhos."Aquilo são coisas divertidas da minha infância", ri. "As pessoas tendem a pensar que tudo o que se relaciona a vinho é esnobe, sério demais. Quando vêem os brinquedos na mesa, sabem que será diferente. Quero que se sintam confortáveis."É assim que Vaynerchuk, ele próprio pouco afeito a pesquisar sobre vinhos na rede, diz estar criando "fileiras" de enófilos. "Pessoas que não tomavam vinhos antes tomam agora, por causa do meu show."Essas pessoas vão ter de esperar um pouco antes de provar vinhos brasileiros. Vaynerchuk ainda não indicou nenhum nos videocasts, mas "não por falta de vontade". "Os vinhos daí não chegam até os Estados Unidos", lamenta. Sua lista é encabeçada pelo Salton Talento, que aparece em seu bloco de anotações junto com os dizeres "prova de que o Brasil pode vir a ser um grande produtor."
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